Cotidiano
Já chegava do outro lado do rio quando ele ligou.
- Senti saudades.
Okei, eu também senti saudades, mas não sou o tipo de mulher que se derrete na primeira ligação.
- Tudo bem contigo?
- Tudo. Senti saudades.
Okei, eu entendi que ele sentiu saudades, mas já havia tentado mudar o assunto. E agora?
- Como foi a viagem?
- Excelente, muito trabalho, muitas fotos e muitas saudades.
- A parte da saudade eu já entendi.
- E como foi ficar esse tempo todo sem mim?
Eu não poderia dizer que foi ótimo, até porque não foi. Também não foi ruim. Na verdade eu não poderia falar nada. Nunca soube mentir, e sabia que minha voz sempre denunciava o escondido.
- Tô chegando aqui num cliente, te ligo depois.
Desliguei antes de ouvir o tchau. Sempre acho que os tchaus podem vir acompanhados de frases ou palavras desnecessárias.
Agora eu precisava tirar os resquícios do Carlos da nossa casa. Não havia roupas, nem fotos, mas tinha o cheiro, a vontade de ter ele lá, os temperos, a forma do corpo dele na nossa cama.
E ainda tinha o porteiro, que estranhou desde o início essa temporada que o meu “primo” estava passando lá.
Cheguei tarde demais, a casa já estava florida e o Paulo já estava lá. O cheiro do café já tomava conta da nossa casa. O cheiro do café...
- Senti saudades, sabia?
- Sim, tu me falou no telefone...
- Nossa, que recepção hein. Eu fico dois meses fora e não ganho nenhum beijinho?
- Minha cabeça ta cansada Paulo. A agência ta mal das pernas, tô correndo atrás de cliente... desculpa.
Abraçobeijoesexo, tudo assim, mecânico. Eu ainda amava ele, mas não era mais a mesma coisa.
Meu mundo havia mudado com a ausência dele. Era como se agora fosse um estranho pra mim.
- Onde tu ta?
- Como assim?
- Tu não tava aqui, teu corpo tava, mas tua cabeça ta longe.
- É... mas foi ótimo.
- Não perguntei se foi bom, perguntei onde tá a minha Camila, aquela que eu deixei aqui há dois meses atrás.
- Eu também não sei onde ela tá. Acho que eu perdi essa Camila. Aconteceu tanta coisa em dois meses Paulo.
Hora de fugir da conversa. Vou pro banho, pensando em tudo que não deve ser dito. Quanto mais se tenta engolir os segredos, mais na ponta da língua eles ficam.
- Ué, quantos temperos. Começou a cozinhar?
- É, dei uma tentada.
- E aprendeu algum prato?
- Ainda tô dando uma tentada... E a viagem? Me conta tudo.
- Da próxima vez tu vai junto. E teu primo? Quando vou conhecer?
Tudo teria ficado bem se eu não tivesse derrubado o vidro de perfume no susto. Tudo teria ficado bem se eu tivesse dado algum dinheirinho pro porteiro. Tudo teria ficado bem se eu nunca tivesse trazido o Carlos pro nosso apartamento.
- Primo?
- É, o Valdir me disse que um primo teu dormiu aqui uns dias.
- Ah sim, o Carlos, tu não conhece ele. Ele nem é bem meu primo, ele é primo da tia Lita, lembra dela? Pois é, é um primo bem distante, que mora no interior.
- E porquê ele ficou aqui?
- Ah Paulo, a tia me ligou, pediu pra eu dar uma força, ele tava fazendo um curso aqui.
- Curso pra quê?
- Pra um concurso, não lembro qual. Acho que era para algum Tribunal. Ah não sei Paulo.
- E o Carlos cozinha?
- Ele cozinhou um peixe, ou um frango. Mas porquê tanta pergunta?
- E onde ele dormiu?
- Como assim onde ele dormiu? Na sala né Paulo! Onde mais ele dormiria?
Continua...
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Há 5 anos