terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Amarelovermelho

-E aí Lê, quê que achou?
Achei que meu silêncio frente à parede vermelha seria entendível.
- Então morzão, ta gostando?
- Não, não tô gostando não.
- Ah Lê, a gente pode passar um verde então, que tal?
- Não, não tô gostando...
- Da parede?
- De tudo.
- Como assim de tudo?
- De tudo Caio.
- Do apartamento?
- Do apartamento, dos móveis, do meu submarino amarelo que ficou escondido na estante...
- Poxa Letícia, mas é que aquele submarino não combina com a sala.
- É Caio... Acho que eu também não combino com a sala...
- Como assim? É o nosso apê, nossa casinha...
- Não Caio, é o teu apê, com as tuas coisinhas, escolhidas pela tua mãezinha. Nada aqui é meu.
- Mas e teu submarino amarelo?
- Ele tá escondido atrás de uma dezena de livros, bem em cima da estante...
- A gente tira ele de lá e coloca ele na mesa de centro, que tal?
- Não, não é só o submarino.
Caminho em direção ao quarto, certa de que estou certa.
- Onde tu vai Letícia?
- Não dá mais Caio.
- Não vai Letícia.
Não sei se sou insensível, mas não consigo achar normal um homem de um metro e noventa chorar ajoelhado aos seus pés, implorando pra você ficar...
- Caio, isso é ridículo. Levanta.
- Pelamordideus Lê, não vai embora, eu tiro o submarino da estante. Foi a mamãe que colocou lá.
- Caio, tu ainda chama tua mãe de mamãe...
- É por causa dela né? Tu tem ciúmes da mamãe né Letícia?
- Eu não vou discutir o indiscutível.
Ando pelo apartamento carregando aquele homenzarrão ao meu tornozelo. Vou juntando o que é meu, pouco a pouco minha vida vai voltando pra mim, entrando na minha mala.
- Caio, me larga.
- Mas Letícia, e nosso apartamento???
- Nosso nada, esse apartamento é teu, tua mãe que te deu, tua mãe que decorou. Nada aqui é meu.
Em um súbito momento “tudo tem volta”, Caio corre até a estante e faz do meu submarino amarelo um refém.
- Ele fica comigo.
- Caio, isso ta mais do que ridículo. Tu detesta esse submarino e ele é meu. Dá aqui.
- Ele vai ficar pra eu lembrar de ti.
- O táxi tá esperando Caio, me dá o submarino.
- Porquê Letícia? Porquê?
Pensa-se mil respostas nesse momento... “Por que tu nunca tá comigo”, “porque tua mãe tem a chave do nosso apê”. “Por que os sofás da sala são ridiculamente floridos”. “Por que tem um quadro da tua mãe no nosso quarto”. “Por que acabou o brilho”.
Mesmo com essas muitas respostas, eu penso em usar a mais clichê e mentirosa. Tentando não causar feridas alheias.
- O problema é comigo Caio, eu preciso ficar sozinha.
Mentira.
- Letícia, se é um tempo, eu te dou. Pára, pensa, coloca a cabeça no lugar e volta pra mim. Fica aqui e a gente conversa, hoje a mamãe vem jantar aqui. Já ta tudo combinado.
- Não Caio, me dá meu submarino.
Nesse momento, ocorreu o fim. Meu submarino se quebrava em mil pedaços, a parede vermelha vermelha. Os amarelos misturados à tinta fresca...
- Não vai Lê, pelamordideus, foi sem querer. Não vai... Me diz porquê.
Juntando os cacos do submarino, agora multicolorido, chorava pelo que deveria ter dado certo, chorava mais ainda por um submarino que eu tinha desde criança... Chorava por ter dito que o problema era comigo...
- Taí o por que, em amarelo e vermelho. Eu vou por que se quebrou...
- O submarino?
- Tudo... Quebrou, perdeu o brilho, acabou o encanto todo.
- Mas Lê, são quatro anos...
- O submarino tinha 24.
- Eu compro outro.
- Nunca vai ser o mesmo. Nada mais vai ser igual.
Duas malas e uma sacola com os restos de um submarino amarelo, amarelovermelho.
Incrível como toda nossa vida cabe em tão pouco espaço.
Do táxi eu ainda ouvia o Caio gritar:
- Mas e a janta? O que eu digo pra mamãe?
Novamente pensei mil respostas. Achei que o motorista do táxi não deveria estar escutando palavras tão chulas.... Talvez causar feridas alheias não fosse assim tão ruim ...
- Diz pra ela que o problema é contigo.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Aos treze dias deste janeiro, dia levemente fechado, com gotas salpicantes de lluvia, decido eu, Cati Carpes, doida e sóbria, que vou escrever sobre amor.


Ai ai ai, neste segundo momento já penso em desistir.
Okei, vamos lá, não deve ser algo assim tão difícil começar a escrever sobre l'amour.
Porque será que tanta gente compra livros sobre amor? "Enquanto o amor não vem?", "Quando o amor chega" e mais um monte de livro de auto-ajuda dusinferno...
A maneira como se vestir, o que falar, como se "portar" quando chegar o lovesperado...
Okei. Mas pérai, será que pra existir algo não bastaria a pessoa simplesmente ser só ela?
Assim, sem ter que mudar a roupacabelobebidaEamigos?
Acredito que a outra parte - que se soma, nada de dividir! isso de metade é só pra limão na caipa! - deve aceitar o pacote completo sabe? Apaixonar-se pelo todo.
Tá, mas e aí, e o amor?
É complicado começar a falar de amor.
Penso que o amor leva tempo pra ser construído, o que faz com que eu descarte de cara o tal do "amor à primeira-vista".
Amor vai muito muito além do achar bonitagostosapeituda.
Isso tá mais pra paixão, quando tudo são flores e lás lás lás.
Pra ter amor tem que conhecer, saber de cada detalhe. Diferenciar cada riso, cada sorrisoerisada, entender o que é imperceptível aos outros, saber que há muitos silêncios, e que a maioria deles nada dizem. Perceber o que realmente importa e jogar fora o que não serve pra nada também deve ser amor.
Fazer bem... ah, isso é algo que sempre imagino que é amor. O simples fato de sentir-se bem com aquela outra criatura ali, ao seu lado. Muda, cantando, sorrindo, dormindo, falando...

Entender que cada um é um também me parece amor, saber que seus amigos são seus e que se tem vida social pré e pós-namoro também é amor.

Gostar da criatura que você se apaixonou, não aquela que você gostaria que ela fosse, também é amor.




****

Ai ai ai, isso é conjunção astral. A mesma que causa abalos sísmicos em namoricos e namorecos, me faz escrever textos bem mulherzinhísticos. Só falta eu endoidecer de vez e encher isso aqui de Hello Kitty - ahhahahaha jura!

Pois bem, vou parar por aqui, antes que a Piti me defenestre.




p.s.: a única coisa certa que seu sei sobre o amor é que all us need is love.


adieu.

trudilu.